terça-feira, 10 de julho de 2012

O novo palavrão do Cristianismo

Todos esses cursos de defesa do cristianismo parecem ter nos deixado desconfortáveis com uma palavra muito básica


Com a ajuda de alguns apologistas e filósofos cristãos, tais como William Lane Craig e Alvin Plantinga, a defesa racional do cristianismo tem desfrutado de uma onda explosiva em anos recentes. O crescente número de matrículas de estudantes de filosofia cristãos, os debates com ampla cobertura com ateístas populares (com uma ajudinha do YouTube), e a crescente coleção de livros de filosofia de grandes editoras mostram o papel dominante que apologistas cristãos exercem na interação do cristianismo com nossa cultura hoje.

Todas essas considerações convidam-nos para um checkup introspectivo. Este é um bom momento para indagar, como fez Soren Kierkegaard, se apologistas cristãos não evoluíram para nada além de uma atividade cultural onde "se ocupam em lidar com cada acusação, cada falsificação, cada afirmação injusta e assim, preocupam-se antes de mais nada em contra-atacar diante de ataques".

"Isto", disse Kierkegaard, "eu não tenho intenção alguma de fazer". Mas isto, creio eu, é precisamente o que muitos apologistas cristãos parecem impulsionados a fazer hoje em praça pública.

Não é um grande segredo que a forma como apologistas famosos hoje respondem a cada "tagarelice e disparate" que aparece diante deles - linha por linha - vem se provando ineficaz e traz algumas consequências muito negativas. Aqui vemos o outro lado da moeda da popularidade dos apologistas cristãos, na constante rendição da Igreja à definição cultural de "racional", "razoável" e "justificado".

Não é possível para nós ignorar a sutil ironia por trás disso. Ao supostamente apresentar uma defesa "racional" para a fé cristã, apologistas cristãos têm com frequência injetado o pensamento ocidental e métodos seculares na Igreja, substituindo o fiel ensino das Escrituras por análises "razoáveis" da Bíblia como um texto histórico.

A Bíblia é clara: O justo vive pela fé. "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" (1 Coríntios 10:31).

Mas "fé", infelizmente, está se tornando o novo palavrão do cristianismo. Mais e mais, apologistas estão sucumbindo a normas culturais. Eles estão trocando "a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta" (1 Coríntios 2:7) pela "tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo" (Colossenses 2:8).

Assim, se nossa apologética não é motivada por nosso amor a Deus, em quem colocamos nossa fé, mas pelo nosso medo de rótulos, então nossa apologética é apenas idolatria, tornando nossa defesa do cristianismo um ídolo para o homem. Devemos substituir esta adoração do homem por um louvor correto a Cristo (lembre-se, "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria"). Somente então teremos a mentalidade correta para defender a fé - para a glória de Deus, não do homem.

Paulo pregava primeiramente pela fé no poder do Evangelho, mesmo ao debater rigorosamente com judeus e gregos (Atos 18:28; 1 Coríntios 1:17). Temos que examinar onde temos depositado nossa ousadia e confiança - é na razão? Em nós mesmos? Ou em Cristo? - para que nos coloquemos na trilha correta.

Nossa fé em Cristo tem que ser maior do que nossa fé na sabedoria e na razão, não importa o rótulo que pode ser colocado sobre nós. Durante a metade do último século, apologistas cristãos foram agraciados com um toque especial. Grandes pensadores cristãos como Cornelius Van Til, John Frame e Greg Bahnsen têm dado um passo a mais na tarefa de restaurar uma visão apropriada e um amor por nossa "convicção de coisas não vistas" através de algo que estão chamando de "apologética pressuposicional". Uma das principais preocupações destes apologistas é injetar a fé de volta à defesa da fé, assim como Agostinho, Anselmo e Pascal fizeram antes deles. Apologistas cristãos, creem eles, devem abraçar e impulsionar-se na fé - com ou sem o consentimento da cultura.

Como Jesus disse: "Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós" (Mateus 5:11). Mentiras, calúnias, tagarelices e disparates sempre virão contra aqueles que pertencem à fé. Mas nós temos sido exortados a considerar estas perseguições como bênçãos, ao invés de as tornarmos racionais, mostrando como somos bons em filosofia.

Como Kierkegaard, devemos dar as boas-vindas a estes ataques, "em parte porque aprendemos no Novo Testamento que a ocorrência de tais coisas é um sinal de que estamos no caminho certo". Se o "palavrão" é nossa letra escarlate, então é a letra que nos fará entrar no Reino de Deus.

Sungyak Kim
é estudante no Seminário Teológico Rerformado, onde  estudou
com John Frame, hoje o mais destacado apologista pressuposicional.
Ele é também pastor de jovens e escreve em seu blog, em thegalatian.wordpress.com.

Traduzido originalmente do site RelevantMagazine.com por Filipe Malafaia

Um comentário:

Denise Malafaia Cerqueira disse...

Só pela fé, há sentido no fato de ser um cristão.
Fora isto, não teria valor tudo o que Jesus Cristo fez. Como aceitaríamos Ele? Como viveríamos nele?
Por isso que sem fé é impossível agradar a Deus.Este é um universo impossível de ser vivido sem a fé.
Os que racionalizam podem ser tudo, menos seguidores do Cristo, porque a fé é a única maneira de nos fazer enxergar que o evangelho é o poder de Deus.
Foi por ela que Paulo declarou:
"Nele eu vivo, nele me movo, nele existo."